Por que o modelo clássico de prova ainda vai durar muito?

 

Por mais que estejamos cercados de inovações tecnológicas, inteligência artificial generativa e promessas de disrupção em todas as áreas, uma pergunta ainda paira forte entre os concurseiros: por quanto tempo o atual modelo de provas escritas, presenciais e discursivas continuará existindo?

Fiz essa pergunta diretamente à inteligência artificial da OpenAI (GPT-4). A resposta me surpreendeu pela sensatez:

“Apesar do avanço da tecnologia, o modelo clássico de concurso público — especialmente nas carreiras jurídicas — deve continuar pelo menos até a próxima década. As provas não avaliam apenas conhecimento. Avaliam disciplina, organização mental e domínio técnico sob pressão — competências humanas que a IA ainda não simula nem substitui.”

Em outras palavras, o concurso jurídico tradicional não está obsoleto. Ele continua sendo o mais eficiente filtro de candidatos que almejam ocupar cargos de alta responsabilidade, como juiz, promotor, defensor, delegado e procurador. Afinal, quem julga, acusa ou defende em nome do Estado precisa demonstrar mais do que conhecimento teórico: precisa mostrar estrutura de pensamento, capacidade de articulação e firmeza emocional sob pressão.

A própria IA reconhece que provas discursivas não são apenas instrumentos para verificar conteúdo memorizado, mas uma forma de observar como o candidato pensa, como escreve, como organiza ideias e, principalmente, se consegue fazê-lo sem apoio externo — exatamente como acontecerá em sua futura atuação profissional.

Além disso, há resistência institucional legítima à digitalização completa dos concursos. Ainda confiamos, com razão, na presencialidade como forma de garantir lisura, evitar fraudes e preservar o ritual jurídico de seleção. A informatização avança — provas digitais, biometria, correções automatizadas em etapas objetivas —, mas o núcleo das provas permanece ancorado na tradição.

Isso não significa que a IA está alheia ao processo. Ao contrário: ferramentas como o LexLege, por exemplo, já ajudam o concurseiro a ler melhor, organizar o cronograma, otimizar a rotina de lei seca, valer-se de recursos multissensoriais que aumentam a retenção do aprendizado e reforçar o estudo sistemático. Mas mesmo essas tecnologias operam com uma premissa central: a leitura integral da lei seca, a prática constante e o domínio da estrutura jurídica são insubstituíveis.

A IA deixa claro:

“Se usada com sabedoria, a tecnologia amplia a capacidade do candidato, mas não substitui o preparo. No dia da prova, ele estará só com sua mente — e é essa mente que precisa estar treinada no modelo clássico.”

Conclusão: o estudo raiz continua

Se há algo que não será substituído nos próximos anos, é o estudo sério, diário e disciplinado. O “estudo raiz”, como muitos gostam de chamar. A leitura da lei seca, a prática de peças, a análise de jurisprudência básica, a escrita com caneta em provas simuladas — tudo isso ainda será exigido por muito tempo.

Mesmo diante da revolução digital, a própria inteligência artificial entende que o candidato aprovado será aquele que, apesar de usar a tecnologia, não abandonou o essencial: esforço, regularidade e profundidade.

Enquanto o concurso jurídico não muda, mude você. Não espere que a IA altere o formato da prova. Prepare sua mente para vencer o formato que já existe — e que ainda vai durar.


Chandler Galvam Lube
Mestre em Direitos e Garantias Fundamentais
Tenente Coronel da PMES
Idealizador do LexLege
Aprovado para membro do MPCE

 

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