LEI SECA, PIRÂMIDE DO APRENDIZADO E OTIMIZAÇÃO DO ESTUDO: recursos ativos e multissensoriais que podem mudar sua história.

É muito conhecida a pirâmide da aprendizagem de William Glasser (vide ilustração abaixo) e tantos outros estudos que buscam analisar meios de retenção e compreensão do conhecimento. Sem maiores delongas, a mera observação da pirâmide permite concluir que um processo ativo de aprendizagem é desejável, notadamente o ato de ensinar.

 



Pois bem. Suponha então que você aceitou um convite para ministrar uma aula de Improbidade Administrativa para advogados alunos de uma pós-graduação jurídica. Convite aceito, o que fazer, sobretudo se você não detém todo o conhecimento necessário?

Certamente uma das primeiras providências (básica e primária) será ler a Lei nº 8.429/92. Sendo uma aula para iniciados, recomendável também que você faça resumos, observe casos recentes e próximos, discuta os pontos complexos e polêmicos com experts, faça exercícios sobre o tema, busque saber da praxe forense e ministerial, etc.

Supondo que você seja um docente aplicado, tenha receio de passar vergonha e esteja comprometido com o processo de ensino-aprendizagem, adotando todas ou ao menos algumas dessas providências, poderá ministrar a aula e, ao final disso tudo, terá retido mais de 90% daquele conhecimento, de modo razoavelmente durador.

Parabéns! Você atingiu o máximo da aprendizagem. Porém, como se vê, ninguém chega do nada dando curso. Note que, para ensinar, antes será necessário aprender. Muitos ou todos os outros níveis da pirâmide terão que ser acessados. É dizer, será preciso ler, escrever, praticar, etc., até que se possa finalmente ensinar.

Agora, imagine-se prestando um concurso público no qual é exigido o conteúdo literal de uma infinidade de leis.  Cerca de 70% da prova objetiva desse concurso é extraída da lei seca. Bom, para dar aula, leia-se, para reter consideravelmente conhecimento acerca destes textos, muito esforço será preciso.

Tudo começa com a boa, velha e inevitável leitura. Eis o alicerce do que se pretende construir. A questão é: qual a qualidade dessa leitura? Será sempre uma leitura simples e passiva?

George Marlmelstein, em sua obra da “Superaprendizagem: A ciência da alta performance cognitiva”, propõe que uma leitura pode ser feita em camadas, começando do mais simples passar de olhos (Skimming) até a leitura profunda e eficaz (leitura + imersão). Bom, já que não estamos no campo do lazer, mas ao reverso, na seara da competição brutal, a leitura da lei para concursos públicos, deverá ser o quanto mais profunda e eficaz possível.

Com efeito, aquela leitura despretensiosa, relaxada, assistemática e ocasional não proporcionará o resultado esperado. Isso não passaria do topo da pirâmide e não serve para nada além de uma auto enganação. Acredite, isso te fará sofrer com reprovações, seguida de mais reprovações.

Um parêntese, a leitura da lei recheada de informações periféricas pode também ser uma estratégia muito ruim. Atualmente, os materiais da lei seca estão tão molhados que o cerne do texto legal se afogou. Ou então as informações estão tão resumidas (com frequência só os “artigos mais importantes”) que o concurseiro nunca chega a ler a lei por completo. Cuidado com o excesso e também com a escassez. Para fins de prova objetiva, nada substitui a literalidade do texto legal. Quando muito o material sobejante ajudará em fases mais adiantadas e o material reduzido apenas para revisões de última hora.

Compreendido isso, devo repisar que uma leitura qualificada é indispensável. Uma leitura ponderada, acompanhada de anotações, grifos, destaques, remissões, já é um avanço. Entretanto, a tecnologia pode oferecer muito mais do que isso. Vejamos:

ATUALIZAÇÃO - O conteúdo deverá ser atualizado constantemente. A lei sofre alterações com muitíssima frequência no Brasil. Veja, por exemplo, a Lei Maria da Penha que até abril de 2025 teve mais de 50 dispositivos alterados, por 16 Leis diferentes e a Constituição Federal que, em média, é alterada quase 4 vezes ao ano. Ocorre que isso coloca em xeque os materiais impressos, bem como aqueles que não podem ser atualizados automaticamente. Passado!

CRONOGRAMA PERSONALIZADO E AUTOMATIZADO - De saída você deve contar com um sistema que selecione e organize a leitura sistemática da lei. Ou seja, um cronograma automatizado que aponte a meta de leitura e que te ofereça, diariamente, o conteúdo certo, de acordo com o edital, de modo a consumar um bom plano de estudo, sem lacunas ou retrabalho desnecessário. A organização manual, artesanal disso é passado.

APRESENTAÇÃO DO TEXTO – A leitura da lei nunca será uma tarefa fácil. Fica ainda mais difícil se a letra é diminuta, o fundo muito luminoso, a fonte é cansativa e coisas do gênero. Também poderá ser desagradável se o horizonte apresentado parecer inalcançável, com longos trechos à frente. Por isso, seu meio de leitura deve contemplar uma luminosidade correta, formatação intuitiva, espaçamento agradável, apresentação em trechos reduzidos, etc. Há estudos muito sérios acerca de cada um desses fatores. Infelizmente, muitos readers e até mesmo o site planalto.gov.br não oferecem essa aclimatação propícia ao conforto e aprendizagem.

ROTINA, LOCAL E TEMPO Uma rotina de leitura é sempre muito desejável. Por isso um cronograma automatizado poderá fornecer as balizas corretas para um comportamento disciplinado e organizado. O local de estudo e o tempo de dedicação são muito relevantes também. Preferencialmente, use um mesmo ambiente e em períodos semelhantes do dia.

Contudo, isso nem sempre é possível. Na vida moderna cada segundo é precioso. Então tenha na palma da sua mão, ou em qualquer dispositivo eletrônico acesso instantâneo ao seu sistema de estudos. Você poderá estudar enquanto espera, no ônibus, no intervalo do trabalho, deitado ou mesmo fazendo exercícios. Seu esquema de estudo precisa ser versátil, tanto quanto sua realidade exigir.

RECURSOS MULTISSENSORIAIS – Segundo Marmelstein, “...quanto maior o número de estímulos, mais eficiente será o processamento da informação”. Logo, admitindo que esta é uma premissa correta, a leitura deverá contar com recursos tais.

Destaque-se recursos como diferentes modos de leitura, podendo ser livre no texto, uma leitura guiada por cursor eletrônico ou uma leitura ponto a ponto, na qual o usuário vai revelando paulatinamente cada parágrafo do texto, acentuando o foco. Possível ainda a leitura acompanhada por áudio que, só por si, faz pular três degraus na pirâmide. As palavras-chave destacadas também são um estimulo cognitivo valioso, bem como um destaque para os artigos mais cobrados, podem fazer a atenção redobrar no ponto. Outra possibilidade interessante é agregar à leitura os sons binaurais, que ajudarão na concentração, absorção e abstração do ambiente externo.

A regulagem na velocidade da leitura guiada também opera no campo do estímulo da atividade cerebral. Não se trata de ler mais em menos tempo, apenas. Na verdade, o uso de uma velocidade razoavelmente maior que o ritmo comum faz com que, imediatamente, a atenção se redobre. O cérebro entende que será necessário um esforço cognitivo adicional, logo sua atenção estará toda voltada para a compreensão e assimilação do texto.

REGISTRO E ÍNDICES DE DESEMPENHO – Textos divididos em pequenos trechos, alvos imediatos mais realistas e ao alcance breve são artifícios cognitivos para uma boa leitura focada. Associado a isto recomenda-se que a evolução no texto seja registrada gradualmente, em escala ascendente, o que dará ao leitor a agradável sensação de estar alcançando seus objetivos. Ademais, um registro organizado das leituras em andamento ou finalizadas, auxiliam com a sensação clara de um planejamento bem executado.

RECURSOS DE APRENDIZADO ATIVO – Adentrando à metade que compõe a base da pirâmide, será preciso, em algum momento, uma postura ativa. Por conta disto recursos como os que permitem completar lacunas no texto e a recapitulação da leitura com auxílio da IA, colocam o leitor, desde logo, em larga vantagem.

Após isso, e apenas após é que os demais recursos ativos entram em cena. Isto é, uma vez realizada a tarefa inicial, de forma organizada e eficaz, será preciso agir para aumentar o grau de retenção da informação. Aqui, indispensável a realização de exercícios, a inclusão dos temas nos debates diários e, porque não, o ato de ensinar. Uma sugestão bem legal é a gravação de áudios e/ou vídeos como se fossem verdadeiras aulas para si mesmo.

5 PASSOS PRÁTICOS PARA TURBINAR SEU ESTUDO DA LEI SECA A PARTIR DE HOJE:

1) Use uma ferramenta que ofereça textos atualizados, destaque de palavras-chave, artigos mais cobrados e preenchimento de lacunas;

2) Monte um cronograma automatizado e personalizado;

3) Leia ouvindo o áudio ou teste os sons binaurais. Use leitura livre, ponto a ponto ou guiada e aumente a velocidade;

4)  Registre seu progresso, veja sua evolução; Otimize seu tempo;

5) Revise com IA; Complemente com resumos, áudios, crie perguntas, discuta ou até mesmo ensine.

 

A tecnologia pode e deve ser um forte aliado do concurseiro. Sai na frente aquele que se propõe lançar mão de todos os artifícios disponíveis. A informatização é uma realidade inexorável e não cabe mais ser “analógico” nessa corrida pelo sonho do concurso público.

Bons estudos!


Chandler Galvam Lube

Aprovado para Promotor de Justiça

Mestre em Direitos e Garantias Constitucionais

Idealizador do Lexlege


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